MANAUS – A pandemia da Covid-19 traz inúmeros impactos no sistema de saúde. Enquanto as atenções das autoridades sanitárias estão voltadas para o combate do novo coronavírus, outras doenças continuam circulando em todo o Amazonas. É o caso do HIV e da Sífilis.
A procura por testes de HIV e Sífilis no Amazonas foi afetada diretamente pela pandemia, é o que apontam os dados da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) sobre o HIV, vírus da Aids, e a sífilis em todo o estado. Ao mesmo passo em que os novos diagnósticos caíram, o número de testes realizados na rede estadual teve queda de até 5,38% em relação ao HIV e de 13,94% em relação à sífilis.
De janeiro a abril de 2020 foram realizados em todo o Amazonas 64.949 testes de HIV. Este ano foram registrados 61.450 testes. A situação da sífilis é pior. Nos quatro primeiros meses de 2020 foram realizados 61.763 testes. Nos quatro primeiros meses de 2021 o estado registrou apenas 53.151 testes
Para a coordenadora estadual de IST/Aids da SES-AM, Vanessa Homobono, essa diminuição pela procura por testes já era esperada.
Essa diminuição pela procura tem a ver com a pandemia. Nós já esperávamos que isso iria acontecer. Muitas unidades foram desativadas e voltadas apenas para o combate a covid-19 e porque a população foi orientada a ficar em casa, diminuindo a circulação de pessoas”.“
Vanessa Homobono, coordenadora estadual de IST/Aids da SES-AM
Com a diminuição dos testes, os especialistas alertam sobre a importância do diagnóstico precoce, uma consequência da diminuição pela procura. Para o médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical (FMT-HVD), Marcus Guerra, o diagnóstico precoce é de grande importância, ainda mais diante de uma pandemia.“Pessoas que detectam a sífilis e o HIV precocemente vão iniciar o tratamento precoce, no tempo certo e vão ganhar qualidade de vida, porque terão bem menor risco de desenvolver infecções que apareçam. Quando o sistema imunitário é afetado pelo vírus HIV, diminui-se a capacidade de se defender de outras infecções. Então o diagnóstico que está sendo oferecido tem que ser utilizado para que as pessoas se protejam das diversas outras doenças que possam ter, inclusive o novo coronavírus”, orienta.
É possível viver com DST’s
O estudante de enfermagem Felipe Barbosa, 31 anos, descobriu ser portador do vírus HIV quando tinha 24 anos. Ele soube que tinha a doença sexualmente transmissível (DST) em um destes testes rápidos disponibilizados na rede pública de saúde. “Eu descobri em 2015 após ficar muito doente. Eu fui então ao médico onde fiz uma bateria de exames e também fiz o teste”.
Felipe demorou a acreditar que tinha o vírus em seu corpo. Após seis meses da descoberta é que veio a aceitação.
“Eu demorei seis meses para começar meu tratamento. Eu não aceitei de princípio. Mudei inclusive de estado. No interior em que eu morava já era difícil ser gay, imagine ser portador do HIV”, conta Felipe.
Além de aceitar a doença, Felipe hoje é militante da causa. Ele faz parte de um grupo chamado Rede de adolescentes jovens vivendo e convivendo com HIV/Aids – REAJVCHA, onde realiza palestras em prol da luta contra o preconceito contra pessoas com DST’s e alertando pessoas sobre o diagnóstico precoce. “Por expor meu rosto em prol dessa causa eu perdi chances de emprego por preconceitos. Sempre assumi que tenho o vírus e vou usar minhas forças para mostrar que é possível viver e conviver com isso”, conta o estudante.
Testes rápidos são disponibilizados na rede pública
A coordenadora estadual de IST/Aids da SES-AM, Vanessa Homobono destaca que a realização dos testes não foi interrompida e que qualquer pessoa pode solicitar na rede pública de saúde. “Em Manaus as pessoas podem procurar a Fundação de Medicina Tropical, a policlínica Antônio Aleixo, a policlínica Gilberto Mestrinho no centro. Os idosos podem procurar o CAIMI Ada Viana no bairro da Compensa. É sempre importante detectar a DST o mais rápido possível e iniciar o tratamento”.