
A Operação Ourives deflagrada nesta quarta-feira, (19) pela Polícia Federal, é mais um capítulo da série de ligações suspeitas entre o crime e a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) durante a gestão do governo Wilson Lima, que inclui afastamento de secretários, roubo de drogas, prisão de delegado e, agora, escolta de ouro ilegal.
PROTEÇÃO PARA BANDIDOS
De acordo com a Polícia Federal, a estrutura de Segurança Pública paga pelo contribuinte é usada para proteger criminosos ligados ao transporte de ouro ilegal no Amazonas. Foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão em Manaus.
“A investigação revelou que a organização criminosa cooptava ourives para manipular e revender ouro extraído ilegalmente em Boa Vista/RR, Humaitá/AM, Japurá/AM e São Gabriel da Cachoeira/AM. O transporte do minério até a capital era realizado por embarcações, caminhões e aeronaves, com apoio de agentes da segurança pública estadual, que garantiam o fluxo da carga ilícita”, afirma a PF.
Sem revelar nomes, a polícia disse que os homens comandados pelo governador Wilson Lima, chefe supremo da SSP, montaram uma organização criminosa.
“Esses agentes também forneciam o ouro ilegal e coordenavam sua distribuição com intermediários, incluindo ourives e empresários. A organização operava com uma estrutura definida, utilizando empresas de fachada para ocultar transações financeiras ilícitas”.
Os novos crimes imputados aos suspeitos que servem na SSP-AM incluem “usurpação de bens da União , peculato , formação de milícia, organização criminosa, dentre outros crimes correlatos”.
Dono de algumas mais negativas no setor da segurança pública do Brasil, essa não é a segunda vez que o Governo de Wilson Lima se vê envolvido com denúncias de contrabando de ouro da Amazônia. Em 2021, a cúpula da Secretaria de Inteligência foi alvo do mesmo tipo de acusação, que acabou na prisão de delegado.
O então secretário executivo de Inteligência do governo do Amazonas, delegado da Polícia Civil Samir Freire, foi preso durante operação da Polícia Federal e do MPE (Ministério Público do Amazonas) naquela ano, acusado de usar a estrutura de sua pasta para roubar ouro extraído de garimpos clandestinos.

A Operação Garimpo Urbano prendeu outros três policiais civis do Amazonas e cumpriu dez mandados de busca e apreensão em Manaus, no interior do estado e também no Pará.
A PF falou em quadrilha “mediante uso de estrutura e pessoal da Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência (Sei)”. Dois meses antes, o Gaeco prendeu o tenente-coronel da PM Glaubo Rubens de Alencar, o investigador da Polícia Civil Acrísio Drumond de Carvalho e o ex-PM Wanderlan Fernandes de Oliveira, suspeitos de roubar maconha de traficantes.
Nesse mesmo período, o Comando Vermelho divulgou um “salve” ou seja, uma mensagem, em que acusava o então titular da SSP, Coronel Louismar Bonates de usar aa PM para extorquir droga, o popular “arrocho” nos bandidos.
IRMÃO DE TRAFICANTE NOMEADO
Em 2023, o Governo do Amazonas nomeou como gerente na Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência o irmão de um traficante condenado.

Lanalbert Nunes Obando foi nomeado com salário de R$ 5.564,67. Ele é irmão de Sérgio Roberto Obando, narcotraficante condenado por tráfico e por associação ao tráfico.
TRÊS CHACINAS
A relação com o tráfico não é a única suspeita que pesa sobre a SSP no governo Wilson Lima. Durante sua gestão, ao menos três chacinas foram colocadas nas costas de quem deveria proteger a população.
O primeiro caso ocorreu no final de 2019, e acabou com 17 mortos no bairro Crespo, em Manaus, entre eles um jovem de 14 anos.
A segunda em agosto, no rio Abacaxis, em Nova Olinda do Norte (AM), acabou em cinco mortos e dois desaparecidos, após uma operação policial na região, supostamente para prender bandidos acusados de matar policiais.
Na época o secretário de Segurança era Louismar Bonates.

A terceira foi em Tabatinga (AM), onde PMs foram acusados de executar seis jovens em resposta à morte de un sargento.
SECRETÁRIOS NA MIRA DA POLÍCIA
Secretários de Wilson Lima na SSP foram ALVO durante a gestão de Wilson Lima. Em 2023, o secretário de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), Carlos Alberto Mansur, foi alvo da Operação Comboio, que cumpriu 16 mandatos de busca e apreensão em Manaus, Apuí e na cidade de São Paulo.
A Polícia Federal e o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) apontaram irregularidades na Secretaria de Segurança Pública do Amazonas. Ele chegou a ser detido com uma arma de fogo
Além do secretário, outras cinco pessoas foram alvo da operação. Na lista, estão dois capitães, um comissário, um coronel e Victor Mansur, filho do secretário.

Além dele, a PF indiciou dois ex-integrantes da cúpula da segurança do Amazonas por envolvimento na chacina do rio Abacaxis. O coronel Louismar Bonates era o secretário de Segurança Pública do Amazonas quando a PM fez a operação com mais de 50 homens em Nova Olinda do Norte.
- Quais as providências que o Governo do Amazonas realiza quando algum servidor é alvo de operações da PF e do Ministério Publico?
- Qual o posicionamento do governo do Amazonas em relação às Operação Ourives e Comboio, que nos últimos anos ligaram possíveis ligações entre o crime organizado e a SSP-AM ?
- Quais são as medidas de controle que a SSP tem em seu protocolo, para evitar que agentes da Segurança Pública se envolva com o crime?
- Quantos servidores da Segurança Pública foram investigados e afastados nos últimos seis anos?
O espaço segue aberto para a manifestação do governo do Amazonas e será acrescentado caso as questões sejam respondidas.